quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Dia 56

- conversas entre pastel e pasteleiro.
Hoje o meu colega experimentou fazer os queques de forma diferente, pondo menos quantidade de massa na forma para eles não sairem nem ficarem torre-queque. Estava a observar os queques no forno como se fossem seus filhos, quando um deles começa a sair da forma. Aí, como se de uma repreensão se tratasse, sussurrou ao queque: 'no-jen-to. Tu és nojento.'

- 80 cêntimos de semi-frio?
Esta não é de hoje, mas hoje lembrei-me que na altura não a publiquei. Uma senhora chegou e perguntou quanto custa uma fatia de semi frio (fatias já marcadas e cortadas), e o patrão respondeu: 1,50€. A senhora olhou para a carteira e disse: 'Então dê-me 80 cêntimos de semi-frio.'

Dia 55

Bem, hoje o dia foi uma chuva de estupidez como eu não via há muito tempo. Primeiro, foi o primeiro dia de trabalho da nova empregada, e isso deixou logo o café mais agitado com a curiosidade dos clientes para saber quem era, a nossa necessidade de lhe mostrar onde estavam as coisas e a sua adaptação ao trabalho. De resto, tenho 4 situações para vocês.

- arrumação acima de tudo.
Estava o patrão a 'limpar' o espaço, arrumando tudo o que estava fora do sítio, quando pega num saca-caricas e o põe na mala pessoal... até perceber o que tinha feito e ir pô-lo na gaveta onde pertence.

- cinzeiros limpos.
Meio da manhã, o café estava um caos. Clientes, loiça suja, torradas a fazer, uma senhora chegou ao balcão e pediu-me um cinzeiro. Eu peguei rapidamente num limpo e dei-lhe. Qual não é o meu espanto quando a senhora, como se de um copo se tratasse, começa a ver se o cinzeiro está realmente limpo, observando-o no ar com a luz da janela. Apeteceu-me perguntar se ia pôr lá a boca, mas controlei-me.

- meias a 5€.
Meio da manhã, também durante o caos. Entra uma senhora de etnia cigana no café e começa a dizer algo depressa que eu não percebo. Avanço para a atender, e ela começa a pôr pares de meias em cima do balcão, repetindo 'dois pares 5€, olhá meia tão linda, veja sem compromisso, é barata', e outras frases que nos incentivavam a comprar as meias. É mais que proibido vender seja o que for ali dentro, e eu comecei com um ataque de riso daqueles. Fui chamar o patrão, e quando viémos, tínhamos o balcão cheio de meias e a senhora já estava a chatear os clientes que estavam sentados. Surreal.

- caixa do correio nova.
Temos há poucos dias uma caixa de correio do café. Normal, rectangular, cinzenta, à porta do café. O carteiro chegou e deixou as cartas em cima de uma mesa lá dentro, como de costume. O patrão, vendo, foi buscar as cartas a resmungar, que ele não tinha visto a caixa lá fora. É nisto que um cliente começa a ficar preocupadíssimo e pergunta: 'Aquilo lá fora não é um marco do correio? É que eu pus uma carta lá dentro que é para mandar para a Vodafone...'

Dia 54

- perspicácia no Spazio.
A fechadura da casa-de-banho das senhoras anda a dar problemas e uma senhora, depois de utilizar a casa-de-banho, dirigiu-se ao meu patrão e disse: 'A chave não sai.' Ao que ele respondeu: 'Então é porque está lá metida.' Pois... se não sai... será?

- pela terceira vez, o café custa 60 cêntimos.
Hoje um senhor pediu-me dois cafés, eu dei-lhe e ele entregou-me um monte de moedas pretas. Perguntei se era para pagar os dois, ele disse que sim e que o troco era para mim, e eu comecei a contar. Eram 64 cêntimos. Eu disse ao senhor que faltavam 56 cêntimos e ele ficou indignadíssimo porque 64 cêntimos não chegaram para dois cafés.

Dia 53

- 'quando uns desdenham, estão outros desejando', já dizia a minha avó.
Segundo dia sem a Teresa, ainda em fase de adaptação à nova vida de pasteleiro, o meu patrão viu que não havia açúcar em pó para pôr em cima dos pecans (trança folhada com mel e noz) e dos travesseiros de sintra (com doce de ovos e amêndoa). Fui ao supermercado ali do lado, e também não tinham. Os bolos ficam realmente mais feios sem o açúcar em pó, e ele arranjou uma solução. Em cima do balcão tínhamos uns pães de Deus com montes de açúcar em pó. Ele pegou nos pães de Deus e começou a dar-lhes pancadinhas, sacodindo o açúcar para cima dos outros bolos. Problema resolvido.

Dia 52

- pastel de nata teimoso.
Foi o primeiro dia sem a Teresa, logo, foi um dos meus patrões a ir para o café às 06h da manhã para fazer bolos e eu comecei a entrar às 07h para abrir o café. Estava ele a tirar os pastéis de nata já prontos das formas enquanto conversávamos, e um dos pastéis não estava a querer descolar da forma. Depois de várias tentativas, ele decidiu virar a forma ao contrário, e ele certamente cairia. Assim que o fez, o interior do pastel caiu na sua luva e a parte de fora ficou na outra mão, colada à forma. Será esta a verdadeira revolta dos pastéis de nata?

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Dia 51 - para Ela

É com muita tristeza que anuncio e aqui torno pública a demissão da nossa Chefa. Pela primeira vez, e com autorização da mesma, divulgo um nome neste blog. Teresa Lopes, protagonista dos episódios: 'falsa partida' (Dia 6), 'luto pelas 19 tigelas' (Dia 14), 'tintureira do Cacém' (Dia 15), 'nova cor: morno' (Dia 32), 'ataque de riso colectivo (Dia 33), 'arrumadores' (Dia 35) e 'miss t-shirt molhada do Spazio (Dia 35).

Mulher plena, completa, genuína, fiel. Sorriso a que se renderam os corações mais frios, sorriso que aos mais infelizes ensinou a sorrir, sorriso que contagiou, sem palavras, só por existir. Olhos castanhos e transparentes que revelam, centímetro por centímetro, a singeleza de um ser com um mundo de histórias de vida para contar, histórias essas que são privilégio exclusivo de ouvidos transparentes como os seus olhos. Parafraseando uma grande amiga, só a podem conhecer aqueles que ainda 'padecem de ouvidos'. Firmeza e coragem que abala montanhas e leva o mundo à frente, para a frente. Simplicidade tão complexa que não há palavras que a possam definir. Mulher de armas que vive e respira serviço, respeito, lealdade, protecção, ensino, mulher que tanto me ensinou, que tanto acompanhou em tão pouco tempo. Olhos que já foram demasiadas vezes inundados em lágrimas, mas não na nossa presença, pois mulher de armas é, e mulher de armas que não vacila. Mãos que seguraram mãos destroçadas, braços que carregaram em si o peso de uma família para reconstruír, e venceram! Mulher sobrevivente que espalha sobrevivência e abdica de si em prol dos outros, resgatando quem precisa de um pouco da sua força (que não acaba nunca!). Como eu a admiro pelo que ela é, e como vou sentir a sua falta no dia-a-dia do café... eu e os clientes, e os que foram seus colegas! Desejo apenas que esta mudança seja proveitosa para ela e, para onde ela for, que receba tudo o que nos proporcionou onde nos recebeu.

O teu sorriso contagiou sem palavras, e por isso eu, em tantas palavras, não consigo transmitir o que com um sorriso tu entenderias. Obrigada, Teresa.

Dia 50

- os idosos e o mundial.
Numa conversa sobre o mundial de 2010, um dos idosos comentou que não gostou nada da ideia das vuvuzelas, porque estava em casa e ouvia sempre uma vuvuzela a fazer 'MUUUUUUUUUUUUUUU' (e este som similar ao de uma vaca foi ouvido em todo o café).

Dia 49

- o plural de pão é pães.
Uma senhora entrou no estabelecimento e dirigiu-se ao balcão. Ao ser atendida, disse: 'Queria dois pões de sementes, por favor.'

Dia 48

- pedidos que se vestem.
Um dos patrões tem como hábito dizer que o pedido está a vestir. Por exemplo, alguém pede o descafeinado e eu estou a tirá-lo. Se ele vai atender a pessoa, a pessoa diz 'já pedi um descafeinado à sua colega.' Ele vê-me a tirar o descafeinado e diz ao cliente: 'O descafeinado está a vestir-se, vem já.' E as pessoas ficam a olhar... entretidas a tentar perceber se ele está a falar a sério ou a gozar, e enquanto matutam naquilo eu acabo o pedido e ponho-lhes o descafeinado já vestido à frente.

- existem arrufadas.
Há uma quantidade considerável de clientes que compram pão de Deus e deixam o açúcar... para o caso de não terem reparado, ao lado dos pães de Deus há uma coisa exactamente igual, só que sem açúcar. E também estão à venda.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Dia 47

- bigode? não, obrigada.
Estava eu a limpar mesas, quando ouço uma jovem a aconselhar uma idosa a não tirar o bigode com gillete.

- orelha só de um lado.
Aqui está outra situação em que nós fazemos sempre, mas sempre, figura de parvos à conta de um dos patrões. Quando apresenta alguém, diz: 'Este é o homem que tem uma orelha só de um lado...' Quem está à volta começa a olhar para as orelhas da pessoa em questão, e ele continua '... porque a outra está do outro lado.'

Dia 46

- clientes imaginários.
Um dos meus patrões tem, em vez de amigos imaginários, clientes imaginários. Tem um talento incrível para imitar as pessoas, e começa grandes diálogos sozinho. 'Então bom dia, vai ser o costume? Não? Hoje é uma tosta? Frango, atum, mozzarella ou delícias do mar?' E por incrível que pareça, sempre que ele começa com isto, nós olhamos a tentar ver onde está o cliente até nos lembrarmos que ele tem clientes imaginários.

Dia 45

- eu falo português.
Um cliente que bebe sempre café entrou e eu perguntei logo: 'É um café?' Ao que o senhor me respondeu: 'Está tudo bem, e consigo?' Eu fiz um sorriso de quem estava a tentar não rir... e o senhor continuou: 'Depois quando puder, tire-me um café.'

Dia 44

- café natural.
Hoje uma senhora pediu-me uma água fresca e um café natural. E mais não digo.

Dia 43

- só fritos.
Entra um casal idoso no café, e o senhor dirige-se rapidamente ao balcão e pede um rissol de leitão. Quando eu já estava a tirá-lo da vitrine, a senhora percebeu o que estava a acontecer e começou a repreendê-lo, dizendo que ele não pode comer fritos. O senhor, olhando para uma montra cheia de queijadas, pães de leite, pães de Deus, arrufadas, tortas, donuts, etc, pergunta desesperado 'O que é que eu vou comer aqui sem ser frito?

- casa-de-banho reservada.
Um cliente habitual, senhor idoso muito simpático e educado, entrou no estabelecimento e pediu a chave da casa-de-banho. Qual não foi o meu espanto quando ele, em vez de se dirigir à casa-de-banho, foi sentar-se à mesa a tomar o pequeno-almoço, com a chave ao lado. Estaria a certificar-se de que ninguém a utilizava antes dele? A verdade é que no fim da refeição levantou-se, foi à casa-de-banho e veio devolver a chave.

Dia 42

- bolos parecidos.
Um cliente entra no café e diz: 'Queria um desses folhados de salsicha, por favor.' Ao que eu respondo: 'Desculpe, mas isso é um croissant de ovo...'

Dia 41

- esplanada vs. dormitório.
Turno da tarde, os meus colegas começam a reparar numa idosa lá fora que está inclinada para o lado na cadeira, e cada vez mais inclinada. Preocupados com o bem-estar da senhora, os meus colegas foram lá fora ver o que se passava... e perceberam que a senhora adormecera na nossa esplanada.

Dia 40

- queque vs. cock.
Bem cedinho, eu ainda não tinha bebido café e como tal ainda não tinha acordado em condições. Um senhor pediu baixinho: 'Queria um café e um queque.' E eu, para confirmar... 'Um café e um coque (cock)?' O senhor riu e eu percebi o que tinha dito.

Dia 39

- tentativa de rapto.
Há um guardanapeiro em cada mesa de cada uma das três zonas do estabelecimento (zona de fumadores, zona de não-fumadores e esplanada). Tirando esses guardanapeiros, temos mais dois no balcão de atendimento, utilizados por nós para colocar no prato por baixo dos bolos e salgados e pelos clientes que consomem no balcão. Temos mais um no balcão que tem os dois pontos de água, e outros dois dentro da cozinha, na zona de confecção de alimentos. Hoje uma senhora pediu uma sandes, eu entreguei-lha e ela pegou num dos guardanapeiros do balcão para levar para a mesa. Eu, muito surpreendida, disse-lhe que não podia levar aquele e tinha um na mesa. A senhora ainda perguntou: 'Mas não posso levar este? É que gosto mais deste do que dos outros...' Eu não quero parecer insensível, mas... são guardanapos!

Dia 38

- mais uma tragédia no Spazio.
Venho agora comunicar-vos uma tragédia semelhante à tragédia do Dia 14, quando se partiram 19 tigelas de sopa. Hoje partiram-se uns 15 pratos de meia de leite e galão... sem que ninguém lhes tocasse! Eles vão ficando inclinados na pilha em que são arrumados. Estava um dos patrões a tirar um café, e no momento em que bate com o manípulo na tulha antes de colocar lá o café novo, os pratos desviaram um pouco mais e caíram todos no chão. Estima-se que cheguem novos pratos nos próximos 3 a 4 dias, até lá teremos que fazer render os poucos sobreviventes do desastre.

Dia 37

- banho na cozinha.
Nós temos no lava-loiça uma torneira com uma pequena 'mangueira' em que é possível regular a pressão da água e é flexível para facilitar a lavagem de objectos grandes. Eu estava a lavar um tabuleiro grande do forno, toquei na torneira para regular aquilo e a torneira soltou-se. Com isto, um esguicho de água fria começou a sair da base da torneira, mesmo junto ao lava-loiça. Eu, sem esperar o banho, ainda demorei uns 3 segundos a perceber que se tirasse o pé do pedal que acciona a torneira, a água pararia de saír. Encharcada, chamei o meu patrão, que voltou a colocar a torneira no lugar.

Dia 36

- portas 'puxe' e 'empurre'.
Nós temos várias portas no café, todas elas devidamente e visivelmente identificadas com placas a dizer 'puxe' e 'empurre'. Não deixa de ser notável a quantidade de pessoas que empurram quando deviam puxar, e puxam quando deviam empurrar... mesmo depois de lerem a placa.

sábado, 2 de outubro de 2010

Dia 35

Hoje o resumo do dia descreve as aventuras de uma das empregadas lá do café, a quem frequentemente chamamos 'Chefa'. Simpatia que conquista os clientes, mãos que conquistam a cozinha, sensibilidade para os sensíveis e pulso forte para os insensíveis, não se deixa intimidar.

- arrumadores.
Hoje almoçámos juntas. Durante o almoço estive a ouvir relatos de confrontos entre ela e arrumadores de carros demasiado persistentes. Para terem uma ideia, numa das situações, depois de ser desrespeitada, saíu do carro e defendeu-se digamos que de uma forma bastante prática, directa e eficaz, de tal forma que outro arrumador acorreu em auxílio do primeiro. O que eu me ri a ouvir estas histórias...

- miss t-shirt molhada do Spazio.
Durante a animada conversa do almoço, a minha colega sujou o polo branco que usamos para trabalhar com molho da comida. Depois do almoço, foi tentar com um pouco de água quente (porque é alérgica a anti-nódoas) tirar a mancha. Escusado será dizer que a camisola branca começou a ficar transparente e ela, com a nódoa meio limpa, meio por limpar, desistiu temporariamente da ideia da água.

Dia 34

- café luminoso.
Houve uma rotura num cano em Linda-a-Velha, de modo a que metade de Linda-a-Velha e Miraflores estavam sem água, e nós tínhamos a água cada vez mais fraca na torneira. Comentando isso com uma senhora, ela vê o lado positivo da situação da seguinte forma: 'Eu nesta casa prefiro que falte água do que falte luz, porque se falta luz eu não tenho café!' Então... o café faz-se com o quê?

- cuecas na esplanada.
Já é a terceira vez que acontece. Não sei como nem porquê, mas a nossa esplanada de vez em quando é frequentada por cuecas sem dono. Em vez de vir uma pessoa com as cuecas vestidas, vêm só as cuecas. Saímos para servir alguém e constatamos que estão umas cuecas no parapeito da nossa janela (ainda por cima aparecem sempre no mesmo sítio). E agora só entre nós, eu nunca tirei cuecas do parapeito nem vi nenhum dos meus colegas a fazê-lo, mas de alguma forma as cuecas acabam por ir embora. Gostam da nossa esplanada, pronto.

Dia 33

- ataque de riso colectivo.
Nós servimos almoços durante a semana que vêm de uma empresa lá para o café. Todos os dias por volta das 11h da manhã um rapaz entra no café com dois tabuleiros grandes (um do prato de carne e o outro do prato de peixe), uma quiche salgada, uma tarte/bolo para sobremesa e um tupperware com a sopa. Entrega tudo, põe a sopa na nossa sopeira e vai lavar o tupperware. Nós, que não estávamos minimamente atentos ao que ele estava a fazer e estávamos entretidíssimos a ver o aspecto dos pratos principais, não nos lembrámos de que o detergente da loiça estava no fim. Estávamos a observar os pratos quando se ouve um ruído mesmo suspeito, do sítio onde o rapaz estava, que no momento deu a entender que ele estaria com algum problema de gases. Começámos a rir, os três que estávamos lá, e não parámos antes de o rapaz ir embora. Entretanto já tínhamos percebido que tinha sido o frasco do detergente a fazer o barulho, mas não conseguíamos parar de rir, e já estávamos vermelhos e a chorar, e clientes que nos viam a rir, mesmo sem saberem porque ríamos, começaram a rir também. Foi o momento mais parvo que já vivi naquele café. Eu estava com pena do rapaz, que devia achar que estávamos a gozar com ele, mas quanto mais olhava para a cara dele de quem não percebia o que se estava a passar, mais vontade tinha de rir. E eu tenho um problema sério com ataques de riso. Custa muito a parar, e quanto mais olham para mim, pior é.

Dia 32

- nós temos é que ser felizes.
Há uma senhora amorosíssima que todos os dias vai tomar o pequeno-almoço lá no café. Já tínhamos reparado antes no seu bom humor, porque a senhora ri (não é sorrir, são gargalhadas sonoras) de tudo o que dizemos e de tudo o que não dizemos. Se perguntamos se está tudo bem, a senhora ri. Se perguntamos se quer um galão, a senhora ri. O curioso é que hoje estávamos a comentar que alguém estava doente e a senhora ria, ria, ria...

- nova cor: morno.
Um senhor pediu um galão. A empregada perguntou: 'Escuro ou claro?' E o senhor respondeu: 'Morno.'

- 2 cêntimos no balcão.
Até tenho vergonha de vos contar isto. Fui ter com um dos patrões à caixa para lhe entregar o dinheiro de algum cliente e vi duas moedas de 1 cêntimo em cima do balcão. Peguei nelas, mostrei-lhe e disse: 'Toma. Estavam no balcão.' Ele, prontamente, enquanto voltava a colocar as moedas no balcão, disse: 'Deixa-as no balcão. Eu ponho aí dois cêntimos todos os dias de propósito para as pessoas me dizerem que estão moedas no balcão.' Só para esclarecer, não, não é uma criança de 5 anos. É um homem de 40 e poucos e é o meu patrão.

Dia 31

Após uns dias agitadíssimos em que não tive mesmo tempo para actualizar o blog, venho pôr em texto os tópicos escritos diariamente no bloco que me acompanha durante o trabalho.

- divagações na esplanada.
A nossa esplanada de manhã é certamente inspiradora para quem lá passa. Na mesma mesa onde uma senhora esteve a cortar o bigode no Dia 15, foi a vez de uma senhora passar o pequeno almoço a falar sozinha. Foi um dos patrões que reparou e chamou-me a atenção para a senhora que estava a mexer os lábios, sozinha na mesa, sozinha na esplanada. Fui lá fora, ela parou de falar e eu pude verificar a inexistência de qualquer telemóvel, auricular ou ser humano nas imediações.

- pastel de nata não é coca-cola.
Uma das coisas que confeccionamos lá no café são os pastéis de nata. Os pastéis tinham acabado de saír do forno (e era visível, uma vez que ainda estavam no tabuleiro do forno e não na vitrine junto aos outros bolos), quando uma senhora pediu um café e um pastel de nata. Deu uma dentada no pastel e disse: 'Este pastel não está fresco.' Eu, surpreendida, respondi: 'Pois, eles acabaram de saír do forno...' A senhora, com desdém: 'Pois, estão quentes.' A vontade era ir buscar um pastel do dia anterior, bem fresquinho, do frigorífico, e dar-lhe. Uma coca-cola deve estar fresca em qualquer altura a que seja servida. Um pastel de nata, especialmente se acabou de saír do forno... bem, é costume estar quente. É uma coisa que o forno faz aos nossos bolos. Aquece-os.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Dia 30

Domingo, por incrível que pareça, não aconteceu nada de especial. Vou contar-vos duas situações, mas uma delas não corresponde a este dia. Depois explico.

- idades trocadas?
Pai e filha estavam na nossa esplanada a tomar o pequeno-almoço, num sítio onde viam que eu os estava a ver. Qual não é o meu espanto quando vejo o pai com o indicador dentro do nariz a fazer uma limpeza de fim-de-semana... nasal! Ficou uns 10 ou 15 minutos naquilo, e eu a ver, e a filha, que deve ter 5 ou 6 anos, sossegada, a tomar o pequeno-almoço.

- falha de segurança.
Acho que isto aconteceu num Sábado. Sábado ou Domingo, foi num fim da semana. Não publiquei no próprio dia porque nunca sei quem lê o blog e a pessoa podia sentir-se ofendida. Assim, não é possível saber de quem se trata. Fim do dia, hora do fecho, começámos a despachar o que podíamos despachar. Eu fui buscar os produtos de limpeza e lavei a casa-de-banho, os patrões ficaram a atender os clientes que ainda estavam no estabelecimento e a organizar coisas na cozinha. Para utilizar as nossas casas-de-banho é necessário pedir a chave no balcão, mas depois da limpeza (por causa das lixívias e tal) as portas ficam abertas até ao dia seguinte de manhã para secar e arejar. Eu acabei de lavar a casa-de-banho de fui para a cozinha tratar de outras coisas. Ás tantas, um homem entra no café e entra na casa-de-banho. Como acontece muitas vezes as pessoas não verem o papel que diz que é preciso chave, eu fiquei à espera que ele voltasse atrás... até me lembrar de que as portas estavam abertas. Aí comecei a ver as horas... e passaram 10 minutos e ele continuava lá, e passaram 15 minutos e ele continuava lá... e eu cá fora com a certeza absoluta do que estava a acontecer lá dentro, cada vez mais triste com a minha casa-de-banho acabadinha de lavar. 20 e tal minutos depois de entrar, saiu. Eu entrei lá e como era de esperar (até pelo cheiro já abafado que me recebeu), a casa-de-banho estava insdiscritivelmente suja e eu tive que a lavar outra vez.

sábado, 18 de setembro de 2010

Dia 29

- coca-cola sem gás?
Dois jovens pediram alguma coisa a um dos patrões, e depois pediram uma coca-cola com gelo. O patrão encheu o copo de gelo, abriu a coca-cola (nós temos coca-cola só em garrafa) e pôs no copo, vendo-se obviamente que tinha gás. O cliente começou a beber e disse 'Não tem gás.' Os patrões, achando muito estranho, trataram de resolver a situação. Um recolheu a garrafa e o copo, e o outro entregou outra bebida (por acaso não reparei se foi outra coca-cola). Foi aqui que eu reparei que se passava alguma coisa, porque eu estava no lava loiça e um dos patrões chegou lá a agitar uma garrafa de coca-cola que sujou aquilo tudo... e perguntou: 'Não tem gás?!'

- café vs. barbeiro.
No 15º dia de trabalho falei-vos de uma senhora que esteve na esplanada, pensando que estava sozinha, a cortar franja, bigode, barba e pelos do nariz. Pois bem, essa mesma senhora esteve hoje dentro do café com o café cheio de gente (duvido, portanto, que ela pensasse estar sozinha) a cortar o bigode. Tive que partilhar.

Dia 28

17 de Setembro, ou seja, exactamente um mês depois de começar a trabalhar lá no café. Três situações para vós, meus caros.

- mais uma chave desaparecida.
No meu 20º dia de trabalho a chave da casa-de-banho das senhoras foi sequestrada pelo canalizador que lá foi arranjar o autocolismo. Acabei por não vos contar o desfecho dessa história, falha minha, conto agora. A chave chegou em segurança ao café no dia seguinte de manhã. Foi entregue pelo próprio canalizador, fui eu que a recebi. Estava a limpar o balcão, quando um senhor me entrega a chave de porta-chaves verde (das senhoras, portanto). Achei estranho, porque aquela chave costuma vir de mãos femininas, e depois lembrei-me que estava a ser devolvida depois umas horas fora de casa e agora está tudo bem com ela. Acontece que hoje desapareceu a chave da casa-de-banho... dos homens! Não sabemos quem foi, mas o canalizador não foi lá hoje. Ah, e seja quem for que levou a chave, teve a bondade de trancar a porta antes de ir embora, pelo que tivémos que a arrombar. Acontece de tudo naquele café...!

- parentesco com patrão.
É incrível como um mês depois de eu começar a trabalhar e depois de publicar no blog do café o desmentido, os clientes continuam a ver-me como filha de um dos patrões. Hoje estava só com o patrão que supostamente é meu pai lá no café e fui à esplanada recolher loiça e pôr cinzeiros. Ao voltar, o patrão não estava lá e estava uma senhora ao balcão. Dirigi-me para ela e perguntei se já estava atendida, e ela, de uma forma quase familiar, respondeu: 'Não se preocupe, menina, o pai já foi lá abaixo tratar do meu pedido.'

Afinal escrevi só duas situações, a outra não tinha assim tanta piada.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Dia 27

Duas situações interessantes.

- o [sujo] é o mais apetecido.
Manhã, cedo, todas as mesas livres. Pronto, quase todas. Alguém sai de uma mesa e entram senhoras idosas no café. Não sei se é para se certificarem de que mantemos tudo limpo, sentam-se na mesa repleta de migalhas, café e loiça suja. Depois, chamam-me: 'Menina, esta mesa está suja.' Eu ia limpar, a sério que ia. Não havia necessidade nenhuma de ter que quase passar por cima de umas velhotas para o fazer.

- pedidos previsíveis.
Há clientes, maioritariamente as senhoras mais idosas, que fazem sempre o mesmo pedido, pela mesma ordem, com a mesma entoação. É engraçado quando eu estou a receber o pedido e tenho ao meu lado o meu patrão a dizer baixinho, imitando o 'ritmo', entoação, até a voz de quem está a fazer o pedido, ao mesmo tempo, o que está a ser pedido. É difícil não rir. 'É um pão de lenha bem cozido com pouca manteiga e um galão quente, nem claro, nem escuro, com adoçante.' Tudo isto para pedir um galão e um pão com manteiga?

Dia 26

- galão vs. meia de leite.
Hoje assisti/participei no que creio ter sido uma situação grave de dupla personalidade. Uma senhora idosa, bem cedinho, chegou a pedir o pequeno almoço. Queria uma sandes de uma coisa qualquer e um galão. Eu perguntei se queria a sandes com ou sem manteiga, e a senhora disse que afinal preferia uma meia de leite. Eu disse que sim e fui fazer a sandes (faz-se sempre primeiro, para que a meia de leite neste caso não arrefeça). Quando lhe entreguei a sandes, disse que afinal queria um galão. Eu, para confirmar. 'Um galão?' E a senhora: 'Não, faça-me antes uma meia de leite.' Eu peguei no manípulo da máquina do café para começar a fazer, e a senhora ainda disse 'Olhe, desculpe, afinal é um galão.' Aí eu fiz o galão muito depressa, antes que ela mudasse de ideias. Por acaso não me informei sobre isto, mas que eu saiba, a grande diferença entre galão e meia de leite é o recipiente. Ambos têm um café (do tamanho de café normal) e depois o resto com leite, e acho que a quantidade de leite é mais ou menos a mesma para os dois, e para ambos entregamos dois pacotes de açúcar ou adoçante. Enfim, nunca pensei que a escolha entre galão e meia de leite pudesse ser tão difícil.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Dia 25

- vou repetir: o café custa 60 cêntimos.
Acontece várias vezes o cliente tentar inventar forma de não pagar. Alegando que não estava bom, ou que demorou muito, há os esquemas mais variados para não efectuar o pagamento. Eis aqui o que aconteceu hoje. Uma senhora entrou e pediu o café. Quando chegou a altura de pagar, começou a pôr lentamente moedas de 10 cêntimos no balcão, mas só até chegar aos 30 cêntimos. Aí parou, como se aquilo fosse o total, e perguntou 'Ah, pois é, quanto custa o café aqui?' Eu respondi '60 cêntimos, sff.' A senhora: 'Epa, aqui o café é mais caro... se calhar vou ter que levantar dinheiro...' Nisto foi remexendo as moedas até juntar os 60 cêntimos que eu recolhi. Se ela conhece um sítio que vende café a 30 cêntimos, acho que estamos todos interessados em saber onde é.

Dia 24

Último dia antes da folga, três situações.

- copo com vontade própria.
Estava um dos patrões com um copo com um refresco de groselha com uma palhinha. Todos provaram, e quando eu ia provar, antes de tocar no copo, a base do copo simplesmente caiu, deixando cair todo o líquido. O 'chão' do copo ficou inteiro, no chão da cozinha, e o copo sem 'chão' ficou também inteiro nas mãos do meu patrão. Era um copo com personalidade forte, portanto.

- não, não é uma praia, é a nossa esplanada.
Há um senhor idoso com uma barriga de cerveja colossal que se senta todos os dias num banco de jardim junto à nossa esplanada, virado para o sol, e levanta a camisola de forma a deixar toda aquela barriga à vista. E ali fica, a bronzear a barriga, tempos sem fim.

- falso espelho.
Há um multibanco na parede da entrada do nosso café. À volta do multibanco a parede é vidro espelhado por fora, mas nós dentro do café conseguimos ver a rua. Da rua é que não se vê para dentro por ser espelhado. Assim, é giríssimo ver as pessoas a arranjar cabelos, dentes, maquilhagem, tudo o que pode existir, pensando que estão sozinhas no mundo.

domingo, 12 de setembro de 2010

Dia 23

Sábado, dia cheio. Por incrível que pareça, hoje só aconteceu uma situação digna de entrar neste blog e nem sequer é nada de especial. Não tem, aliás, piada nenhuma. Vou publicar só porque foi a melhor cena do dia. A outra situação que vou publicar não se passou hoje, nem sei quando aconteceu, mas eu soube dela hoje e achei que valia a pena contar-vos. Aqui vai.

- o café só custa 60 cêntimos, não sei se sabem.
Hoje, durante a tarde, entrou um cliente que me pediu um café. Eu fiz o pedido, entreguei-lhe o café e voltei para a loiça. No fim de beber o café, o cliente chama-me: 'Olhe, desculpe, queria pagar.' E mostra-me uma nota de 200€! Eu fiquei uns segundos parada à frente dele com a certeza absoluta de que ele estava a gozar com a minha cara (até porque deve ter os seus 20 e poucos anos; era mais provável estar a gozar comigo do que estar a tentar pagar um café com uma nota amarela do tamanho da minha mão). Não estava, era a sério. Recebi os 200€ e lá andámos a contar notas para dar o troco ao rapaz.

- torrada incandescente.
Ainda não vos dei uma informação importantíssima para a compreensão de alguns episódios do blog, nomeadamente o episódio das tigelas, no Dia 14. Os meus dois patrões foram bombeiros durante muito tempo. Um 15 anos e o outro 20. Então, esta situação que me foi contada há bocado, passou-se quando um deles queimou uma torrada. Pelos vistos não foi uma torrada qualquer, ou pelo menos não foi convencionalmente queimada, porque ficou num estado tal que ficou em carvão quase incandescente e o autor da maravilhosa torrada decidiu passá-la por água antes de a colocar no lixo, por precaução. Esta situação foi contada por uma cliente que presenciou estupefacta o momento, vendo um patrão atrás do balcão a passar uma torrada preta por água. Curiosamente, hoje foi o dia em que queimei a primeira torrada, mas não tive que a passar por água.

sábado, 11 de setembro de 2010

Dia 22

A chegada do fim-de-semana altera mesmo o ambiente e proporciona mais e melhores situações para vocês. Hoje o diário é inédito, sendo que tenho quatro situações para partilhar e todas elas envolvem as nossas velhotas.

- o baton é para os lábios, só.
Entra uma senhora idosa no café, eu estava a lavar loiça, larguei a loiça e fui atendê-la com um sorriso. A senhora, simpática, ao sorrir para mim mostrou os dentes vermelhos, de baton. Eu não sei muito bem como é que ela fez aquilo, mas a verdade é que tinha os lábios pintados de vermelho... tal como os dentes do maxilar inferior.

- homicídio no café.
Estava eu a lavar a loiça (hoje estive muito tempo na loiça), e entre a loiça suja vinda da mesinha da terceira idade, ao separar o lixo para pôr a loiça a lavar, encontrei o que mais tarde percebi serem os restos mortais de um isqueiro. Estava desmembrado e distribuído entre pratos, copos e cinzeiros. Ainda estamos à procura de quem cometeu tal barbaridade, tendo o sangue frio de entregar o cadáver junto ao lava-loiça.

- já inventaram as tostas de fiambre.
Uma senhora idosa chegou ao pé do balcão ao fim do dia e pediu: 'Queria uma tosta mista por favor... mas daquelas sem queijo.'

- resposta inesperada.
Eu estava dentro do café sozinha, e como o café estava praticamente vazio os dois patrões foram fumar um cigarro para a esplanada. Às tantas entraram duas senhoras; uma para um café ou uma torrada, ou uma coisa qualquer que eu podia fazer e fiz, e a outra para totoloto ou euromilhões, ou uma coisa qualquer que tem que ser feita por um deles. Atendi a senhora que podia atender e fui lá fora para chamar um dos patrões. A senhora já atendida foi atrás de mim e falou primeiro, originando o seguinte diálogo:
Cliente - 'Então, está uma senhora lá à espera e vocês estão os dois cá fora...'
Patrão - 'Mas quem?
Cliente - 'Uma senhora, está lá dentro à espera para...'
Patrão (interrompendo) - 'Não não, quem é que a atura?'

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Dia 21

Decidi no início deste blog que o manteria isento de matérias de cariz sexual, porque comentários desagradáveis e piadas nojentas de damas e cavalheiros com mais de 50 anos chovem de tal maneira que se tornam vulgares. Assim sendo, não, não vos vou contar a cena com mais piada do dia. Vou antes falar-vos de outra coisa que acontece muitas e muitas vezes.

- novo jogo: 'não vais ouvir'.
Acontece quase todos os dias, várias vezes. Aqui ficam as regras do novo jogo inventado no Spazio, cujo campeonato já começou. O cliente chega, começa a dizer pausada e pensativamente o que vai querer, até que faz uma pausa mais longa com ar de quem ou não quer mais nada ou então ainda vai pensar um bocado no assunto, e nós viramos as costas para tratar do que já foi pedido. Assim que vamos embora, o cliente diz o resto do que quer, muito depressa, entredentes, e nós não percebemos nada. Por algum motivo isto acontece, muito. Eu quase aposto que se ficasse o dia inteiro à frente do cliente à espera que ele se lembrasse de mais alguma coisa, não ia surgir nada. Assim que fico ocupada, para além de se lembrar do que quer, trata de mo transmitir de forma a que eu não perceba. Porque é que os clientes esperam que vamos embora para completarem os pedidos? O ser humano é difícil de compreender.

Dia 20

O dia até foi calmo. Fiz o meu turno da manhã, saí e quando voltei para o turno da noite, contaram-me o que aconteceu.

- rapto da chave da casa-de-banho.
O autocolismo da casa-de-banho das senhoras estava estragado há algum tempo, e o canalizador foi lá durante a tarde para o arranjar. Fez o seu trabalho e foi embora. Mais tarde, já depois de eu entrar, percebemos que a chave da casa-de-banho não se encontrava no local indicado. Depois de procurarmos, alguém se lembrou de contactar o canalizador, que disse ter ficado com a chave. Assim, esperamos amanhã o seu regresso com a dita chave, até porque a casa-de-banho desgovernada tornou a limpeza ao fim do dia num desafio autêntico.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Dia 19

Três situações para vocês, caros leitores.

- gosto em gastar.
Como já mencionei neste blog, temos dois pontos de água gratuita lá no café. As pessoas podem querer água fresca ou natural, até nos podem pedir um copo com gelo. Eu pessoalmente, só por isso, nunca gastaria dinheiro numa garrafa, a menos que quisesse ir embora e levar a água. Acontece que há um número considerável de clientes a comprar garrafas de 50cl, bebem pouco ou nada e deixam lá a garrafa quase cheia, que pagaram. Há quem goste mesmo de gastar dinheiro.

- há quem prefira não dissolver o açúcar no café com o dedo.
Não sei se ainda se lembram do episódio de que vos falei no Dia 7, sobre eu esquecer-me de abrir as garrafas antes de as entregar aos clientes. Pronto, esta situação é parecida. Agora já abro as garrafas, é raro esquecer-me, então tenho um esquecimento novo: entrego os cafés sem colher. Tiro o café, preparo o prato, ponho lá o pacote de açúcar e a chávena e entrego aos clientes. Semelhantemente à situação das garrafas, viro as costas e vou fazer outra coisa qualquer ou atender outro cliente, até perceber que se calhar é mais fácil dissolver açúcar numa chávena de café quando se tem uma colher.

- 'querem mais papel?'
Estava um grupo de adolescentes daqueles que acham que têm piada na esplanada a comer bolos de outro café, e a fazer bolinhas de papel e sujar a mesa e o chão, e a gastar-nos os guardanapos todos. Um dos patrões pegou num guardanapeiro, foi lá fora e perguntou-lhes: 'Querem mais papel?' Eles não perceberam, e ele continuou. 'Vejam lá, esse já está no fim. Se quiserem fazer mais bolinhas, temos cá dentro mais papel.' E eles foram embora.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Dia 18

Domingo, último dia antes da folga, duas situações.

- mal entendido do descafeinado.
Esta foi com a minha colega. Um senhor pediu um descafeinado, e ela perguntou 'com açúcar ou adoçante?' O senhor respondeu 'Não, um descafeinado.' E ela continuou a perguntar e ele a responder, mais umas cinco ou seis vezes enquanto eu observava sem acreditar no que estava a ver e sem saber se havia de rir ou não, se ele estava a gozar com a nossa cara ou não estava mesmo a perceber. Era a sério. às tantas ele percebeu e disse 'Quero um descafeinado... com adoçante.'

- maxmen no balcão.
Já é automático. Tudo o que está no nosso balcão e não pertence ao balcão é para retirar. É loiça suja, guardanapos, maços de tabaco vazios, etc. Estava eu a tirar tudo do balcão e pego numa revista. Ao perceber que não era para recolher, voltei a colocá-la no balcão e continuei a tirar tudo o resto. Olhando para a revista, percebi que era uma Maxmen ou FHM ou algo do género. Resumindo, mulheres nuas. Olhei para o dono da revista e ele estava a olhar para mim com um ar admiradíssimo como se eu tivesse tentado roubar-lhe a revista. Sim, se há coisa que eu quero é uma maxmen... E já agora? Quem o mandou pôr aquilo no nosso balcão?

Dia 17

- à vontade com clientes.
As senhoras do nosso grupinho regular da terceira idade são, em geral, bastante vaidosas e preocupadas com o visual. No entanto, há uma senhora especialmente vaidosa, que costuma usar mais maquilhagem que as outras. Esta mesma senhora entrou no café, de manhãzinha, vestida de uma forma mesmo, mesmo, mesmo estravagante. Com aqueles fatos de casaco igual às calças, com um padrão todo manhoso e uma camisola por dentro que também deixava muito a desejar... Eu, ao vê-la entrar, dei um toque a um dos patrões, tipo 'Olha ali...' Ele, descontraidíssimo, dirige-se para a senhora e pergunta: 'Então, D. ... (obviamente não vou dizer o nome da senhora), veio do circo?'

domingo, 5 de setembro de 2010

Dia 16

- tê.
Temos uma senhora (do tradicional grupinho da 3ªidade) que tem um problema sério com o inglês, ou pelo menos essa é a única explicação lógica que consigo encontrar. Fui atendê-la, e a senhora pediu: 'Queria um tê de maçã.' Bem, ela estava a olhar para os B's, então eu perguntei se era a isso que se referia. Até tentei 'parecer-me' com ela para não a ridicularizar, e perguntei se queria um bê. A senhora disse que não, que queria um ice tê de maçã. Bem, nós ice tea não temos, só nestea, e tambem não era isso que a senhora queria. Acabei por perceber que a senhora queria um pleno de maçãs verdes. É preciso ter uma mente muito aberta para conseguir atender estes clientes.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Dia 15

Três histórias hoje para vocês, e todas elas com um potencial considerável para provocar o riso em quem as lê.

- tintureira do cacém.
O prato de peixe na hora do almoço era tintureira. Como quase ninguém sabe o que é tintureira, nós explicávamos sempre que é da família do cação. Às tantas entra uma senhora no café, pergunta o que é o almoço e uma das empregadas responde: 'frango com cerveja e tintureira do Cacém.'

- o ucraniano e a casa-de-banho.
Um senhor, provavelmente ucraniano, dirigiu-se à nova empregada e começou a pedir a chave da casa-de-banho. Como tem um português muito difícil de compreender, ela foi perguntando 'desculpe?', sem perceber, e ele foi repetindo o que queria, sem sucesso. Às tantas, num acto desesperado e imprevísivel (uma vez que estamos a falar de um homem feito, consciente do que faz), diz, de forma a que todas as pessoas no café possam ouvir: CHICHI!
E assim conseguiu a chave que tanto queria.

- salão de beleza vs. esplanada do Spazio.
Ainda não eram 09h da manhã, a esplanada ainda estava vazia à excepção de uma senhora e o café minimamente sossegado, eu estava a lavar a loiça e deparo-me com a senhora da esplanada a cortar a franja, ali, com uma tesoura pequena e um espelho. Tenho que dar uma informação crucial para tudo o que se passou a seguir: As nossas janelas tem umas cortinas que fazem com que se veja para o lado em que há mais luz, ou seja, de manhã vê-se de dentro para fora do café e quem está lá fora não vê para dentro; à noite, não se vê nada para fora do café, mas quem passa na rua vê tudo lá dentro. Pronto. Àquela hora e vendo as janelas fechadas, a senhora achava que ninguém a estava a ver (até porque de vez em quando olhava à volta para se certificar de que a esplanada continuava vazia). Eu, divertidíssima, fui chamando os meus colegas, um por um, e qual não é o meu espanto quando ela começa a cortar o bigode com a tesoura, ali, enquanto bebia o seu café. Um pouco depois começou a tirar pelos do queixo, tambem com a tesoura (pergunto-me qual seria o tamanho desses pelos para que pudessem ser cortados com tesoura). Mais tarde ainda, começou a cortar os pelos do nariz, continuando a beber o café. Isto durou cerca de uma hora, uma hora de diversão extrema dentro da cozinha. Acabou quando chegou um homem que se sentou ao lado dela.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Dia 14

- luto pelas 19 tigelas.
Caros leitores, venho por este meio notificá-los da tragédia que aconteceu no Spazio di Caffé na manhã do dia 1 de Setembro, meu 14º dia de trabalho. Na sequência da situação climatérica adversa anunciada previamente nos boletins meteorológicos, ouviu-se por volta das 11h da manhã, no meio da tempestade, um estrondo que por breves instantes silenciou o café. Acorrendo ao local, verificámos que uma pilha de tigelas estava despadaçada no chão da cozinha, perto da torradeira, num cenário de caos. Quando os bombeiros chegaram ao local já era demasiado tarde para as 19 tigelas que faleceram. Duas tigelas continuam desaparecidas e temos profissionais no local a liderar as buscas. As outras tigelas estão a ter acompanhamento psiquiátrico e pensa-se que possam brevemente voltar ao seu trabalho. Devido a este incidente, e em homenagem às amadas tigelas que faleceram, nos próximos dias não serviremos sopa. O dia 1 de Setembro de 2010 será lembrado para sempre com pesar por todos os clientes e empregados daquele estabelecimento. Atenciosamente, Spazio di Caffé.


Ok, não foi bem assim que aconteceu. A verdade é que um dos membros da nossa equipa de trabalho deixou cair as 19 tigelas que se partiram e realmente calaram o café com o estrondo. Ah, e obviamente não vamos deixar de servir sopa.

Dia 13

- baptismo da nova empregada.
Aniversário do meu irmão e primeiro dia de trabalho da minha nova colega, muito simpática e com quem tive empatia desde o início. Foi um dia relativamente calmo no meu turno, mas chegou-me aos ouvidos que a minha colega já foi baptizada enquanto empregada. Estava com um grande bule de chá para entregar e deixou-o cair sobre si mesma... Etapa do baptismo está tratada, o que virá a seguir?

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Dia 12

- chichi por contágio.
Mudei novamente o meu horário, só trabalhei uma hora porque o estabelecimento fechou mais cedo, o mais engraçado mesmo foi um momento de chichi por contágio. Passo a explicar: uma criança chegou ao balcão aos saltinhos. Segundos depois, percebemos que a menina queria fazer chichi e estava a fazer uma encenação imensa para pedir a chave da casa-de-banho. Com tanta agitação, a irmã mais nova apercebeu-se do que se estava a passar e começou aos saltinhos também, como se também quisesse fazer chichi. Quando reparámos, tínhamos duas crianças a saltar e correr pelo café, de chave em punho, a gritar vitoriosas: 'Já temos a chave!'

domingo, 29 de agosto de 2010

Dia 11

- beber a tosta?
Já no fim do dia, um dos patrões preparou uma tosta para uma cliente. Ao dirigir-se à cliente para entregar o pedido, perguntou: 'vai beber isto com o quê?'

- o assobio misterioso.
O telemóvel de um dos patrões tem definido para as chamadas uma gravação do outro patrão a assobiar. Estava o dono do telemóvel a atender clientes no balcão, quando o telemóvel começa a tocar. Estando com clientes, optou por não atender e ignorar a chamada, não mostrando qualquer reacção e continuando a preparar bebidas e servir bolos. Os clientes, intrigadíssimos, olhavam em volta e tentavam descobrir quem estaria a assobiar. Ao mesmo tempo, nós, dentro do balcão, continuámos a fazer o que estávamos a fazer como se nada se passasse. Foi divertidíssimo quase conseguir ler na cara dos clientes 'Estará mais alguém a ouvir, ou estarei eu a enlouquecer?

sábado, 28 de agosto de 2010

Dia 10

Caros amigos, hoje tenho duas situações que nada têm de extraordinário, são obviamente ridículas e ainda assim acontecem constantemente (daí eu publicar).

- Nem sempre é bom as crianças perceberem que os crescidos lhes acham piada.
Há uma criança amorosíssima que deve ter uns dois anos e cujos pais são clientes regulares no café. É daquelas crianças espevitadas que tendem a interagir muito com as outras pessoas, conversando, entrando na cozinha, todo o tipo de atitudes a que achamos imensa graça quando vindas de um ser humano com menos de 80cm de altura. Acontece que hoje, perto da hora do fecho, a família da menina pediu algumas imperiais, que estavam sobre a mesa, na esplanada, enquanto os adultos conversavam. Sem que se apercebessem, a criancinha chegou perto da mesa, segurou-a pelos pés e começou a abaná-la e a rir, de forma a que tudo o que havia se entornou, sujando a mesa, o chão e a roupa de todos os que lá estavam.

- Pedir um alimento no balcão de um café não é errado e não deve ser encarado como tal.
Este é outro daqueles acontecimentos típicos que o meu cérebro não atinge. Está o café cheio de gente, montes de barulho, e o cliente sussurra entre dentes, como se fosse segredo ou fosse pedir algo de errado, 'era um pãozinho com manteiga'. Nós, sem perceber... 'desculpe?' O cliente faz um ar ainda mais sofrido e repete, de uma forma ainda menos perceptível. Se calhar as pessoas não sabem, mas se não abrirem a boca e/ou não fizerem uso de uns instrumentos maravilhosos que têm chamados cordas vocais, nós não vamos perceber o que querem. E o ar sofrido... não percebo se acham que é vergonhoso o pedido que vão fazer, mas é pouco provável porque nós só vendemos coisas decentes, ou se é pena de nos darem trabalho, e nesse caso sugiro que experimentem trabalhar a dicção e poupam-nos o tempo gasto a tentar descobrir o que desejam. Só sugestões.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Dia 9

- queria uma dieta coerente, por favor.
Sem nenhum acontecimento especialmente marcante, deixo aqui uma situação em que tenho vindo a reparar. Como não podia deixar de ser, sobre as nossas fiéis clientes idosas. Para além de passarem o tempo a salientar como cada uma das outras está gorda, pedem (sem excepçao) salgados, bolos com creme, scones, doces, tostas, torradas, uma vastidão sem fim de coisas que engordam. E para beber, sempre, um descafeinado com adoçante, 'por causa da dieta'. Alguém percebe isto?

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Dia 8

- bebidas orientas.
Dia semi-tranquilo, pelo menos o meu turno. A coisa mais invulgar foi uma senhora idosa que, depois de fazer um pedido de uma quantidade considerável de salgados, gelatinas e coisas do género, pediu:
- E são duas daquelas bebidas orientais...
Bem. Eu sou nova naquele café, ainda não conheço todos os produtos, e fui perguntar ao meu patrão o que era uma bebida oriental. A senhora, muito apressada, explicou:
- Aquelas bebidas orientais. Um néctar de pêssego e o outro de manga.
A senhora referia-se a compal.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Dia 7

Depois da primeira folga, a terça-feira trouxe mais três situações interessantes.

- as garrafas não se abrem sozinhas.
Tem vindo a acontecer desde que comecei a trabalhar, e já é motivo de riso por lá. Pedem-me uma bebida de garrafa com carica, eu preparo o copo todo mariquinhas com o gelo e o limão, entrego e esqueço-me de abrir a garrafa. O mais vulgar é o cliente ficar a olhar para mim, eu virar as costas para atender outro cliente e lembrar-me entretanto que a garrafa não se vai abrir sozinha. O que vale é que os clientes acabam por achar piada...

- as velhotas e os óculos esculos.
Não podia faltar aqui um episódio das nossas queridas representantes da 3ª idade. Hoje o café começou a fechar mais tarde, às 22h. Então não é que já de noite andavam as senhoras dentro do café de óculos escuros na cara a conversar pacatamente? Com esta situação com a camada do ozono, todo o cuidado é pouco... ou pelo menos deve ser essa a filosofia.

- 5€ para o lixo.
Estava um dos patrões a tirar papelinhos da caixa registadora e deitar fora, quando repara que está algo azul no caixote do lixo. Era uma nota de 5€, bem amarrotada, que tinha sido deitada fora com os outros papéis. Aqui se vê como a casa está a facturar. Estamos tão bem, que notinhas pequenas são para o lixo. (Obviamente, a nota foi reposta na caixa imediatamente.)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Dia 6

Confirma-se. O fim-de-semana é uma fonte de inspiração. Hoje tenho seis situações para desabafar convosco.

- falsa partida.
Um cliente, depois de beber o café, levanta-se da mesa e encaminha-se lentamente para o balcão. Numa cumplicidade automática, os funcionários atrás do balcão despedem-se e encorajam o senhor a saír com felizes 'até amanhã' e 'adeus, boa tarde', até que o senhor, num curto espaço de silêncio nesta despedida antecipada, diz: 'era só para pedir mais um café.'

- pedidos fantasma.
Não sei quem, como, nem porquê. A verdade é que de quando em quando alguém nos faz um pedido e desaparece. O pedido é feito, nós preparamos o que nos foi solicitado, e quando está pronto não há ninguém para o receber. Para confirmar, chegamos a verificar mesa a mesa para percebermos que quem fez o pedido já não se encontra no estabelecimento.

- senhora com baton vs. baton com senhora.
Bem, este é dos complicados. Uma coisa que eu nunca percebi é a necessidade de as senhoras mergulharem em baton vermelho antes de beberem café. Por algum motivo não faz sentido na minha cabeça. A verdade é que há tantas chávenas a chegar à cozinha com vermelho entranhado, que o estabelecimento adquiriu a Escova do Baton. É uma escova destinada a remover todos os pedaços e partículas da substância que ficam na chávena. Se calhar faz mais sentido beber o café primeiro e dar banho aos lábios depois. A cliente não perde metade do baton na chávena, e nós não precisamos de um esfregão de arame para lavar a loiça. Só vantagens.

- as velhotas e o futebol.
Estava eu a limpar mesas e trocar cinzeiros, quando começo a ouvir a conversa das senhoras da mesa do canto. Estavam a falar, obviamente informadas, da contratação do Roberto para o Benfica, de como o Quim era melhor, das substituições mal feitas, da derrota frente ao Nacional, etc. As velhotas já não são o que eram.

- meio café e meio pacote de açúcar.
Aqui está um pedido que não existe e devia existir. Por algum motivo, muitas pessoas utilizam apenas metade do pacote de açúcar no café. Sei que usam o que querem, mas torna-se desagradável e até irritante ao fim de algum tempo ter que limpar a cozinha porque ficou outra vez cheia de açúcar depois de pegarmos num pacote para pôr no lixo antes de lavarmos a chávena, chegando à conclusão de que o pacote afinal não estava vazio. Em relação ao meio café... brincadeiras à parte, já existe. E nós temos. Em vez de beberem apenas metade do café e depositarem meio mundo dentro do copo, podem pedir logo um café curto ou uma italiana, nós também servimos dessas coisas.

- novo jogo: 'olha quem paga'.
Aqui está uma modalidade nova jogada no Spazio di Caffé durante as tardes. As nossas clientes frequentes mais idosas costumam escolher uma mesa na esplanada e ficar por lá a tarde inteira entre galões, torradas, scones, imperiais, meias de leite, etc. De vez em quando, uma entra sorrateiramente no café e vem tentar pagar tudo das outras. Tentam até pagar o que ainda não foi pedido. Se alguma das outras se apercebe, entra a exigir que não aceitemos o dinheiro, pois ela própria pagará por todas.

domingo, 22 de agosto de 2010

Dia 5

O fim-de-semana inspirou os clientes, ou pelo menos assim parece. Hoje tenho quatro situações para partilhar.

- os clientes e o origami.
Eu não percebo qual é a necessidade que os clientes têm de enfiar o máximo de guardanapos que lhes for possível nos restos empapados do café e açúcar no fundo das chávenas. Se não sabiam, ficam a saber - a loiça não vai para a máquina como chega à cozinha. Tudo o que é depositado nas chávenas, é retirado com as nossas mãos antes de ir para a máquina. Enfim, acho que dá para perceber a ideia. Hoje, porém, houve duas mentes brilhantes que foram para além do papel empapado e fizeram verdadeiras obras de arte. Por uns breves segundos tive pena de as destruír.

- a senhora que gostou da casa-de-banho.
Uma senhora volta da casa-de-banho, entrega a chave a um dos patrões que lhe pergunta: 'Então, gostou da casa-de-banho?' Ao que a senhora respondeu: 'Gostei, sim.'

- a água de marca.
Temos no balcão duas zonas de água gratuita, os clientes podem e devem servir-se. Um jarro de água obviamente da torneira e uma engenhoca daquelas em que a água pode saír natural ou fresca, com um depósito azul, que é igualmente preenchido com água da torneira. Um senhor estava a decidir, escolheu a engenhoca e comentou como aquela água é boa. Um dos patrões disse 'Pois, essa é das que vêm engarrafadas...' Ao que o cliente respondeu: 'Dá para distinguir, esta é mesmo fresca. Muito boa esta água.'

- o senhor do whisky.
Há um senhor idoso muito simpático que todos os dias pede um whisky como quem está a tentar manter um segredo, hoje percebi porquê. O senhor toma comprimidos que supostamente o proíbem do consumo de bebidas alcoólicas. Ele vai com a mulher para o café, deixa-a na esplanada, diz que vai à casa-de-banho e vem pedir-nos whisky. Três a quatro vezes por dia. E nós damos.

Dia 4

- serviço de mesa.
Nada extraordinário. Houve um momento com alguma piada, quando entraram dois jovens em fim de adolescência a medir forças com as regras do estabelecimento. Não há serviço de mesas, e as duas crianças grandes com uma amostra de barba ficaram sentadas na esplanada durante cerca de meia hora até perceberem que não ia lá ninguém. Aí, um deles levantou-se e veio pedir duas coca-colas.

Spazio di Caffé - 1
Miúdos Parvos - 0

Dia 3

- ajudantes na hora do fecho.
Primeiro dia mais difícil. Muita agitação, duas loiras daquelas mesmo mesmo burras a implicar com tudo, um corte no dedo... a cena mais engraçada do dia foi mesmo ver as velhotas na hora do fecho a ajudar-nos a arrumar a esplanada. Estava eu a aspirar o chão quando olho lá para fora e vejo três velhotas a passear cadeiras de um lado para o outro.

Dia 2

(só para contextualizar, o café onde trabalho é daqueles em que é necessário pedir a chave da casa-de-banho para a utilizar.)
Entra uma senhora idosa no estabelecimento...
- Oh menina, empreste-me a chave...
Eu, para confirmar...
- Da casa-de-banho?
Ao que a senhora responde, sem hesitar, e com um grande sorriso:
- Está tudo bem, muito obrigada.

Dia 1

Mudei de horário, descobri o nome do estabelecimento - Spazio di Caffé - e vivi a primeira situação caricata: clientes perguntaram se sou filha de um dos patrões, ele respondeu que sim, e a brincadeira pegou.
Isto vai ter piada...

pequena introdução

Boa noite caros leitores. Este espaço consiste em relatos de situações verídicas vividas dia após dia por uma empregada do café que dá nome ao blog. Saliento que o café em questão é o espaço mais incrível e adorável que jamais poderão conhecer.

Atenciosamente,
jw.