segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Dia 30

Domingo, por incrível que pareça, não aconteceu nada de especial. Vou contar-vos duas situações, mas uma delas não corresponde a este dia. Depois explico.

- idades trocadas?
Pai e filha estavam na nossa esplanada a tomar o pequeno-almoço, num sítio onde viam que eu os estava a ver. Qual não é o meu espanto quando vejo o pai com o indicador dentro do nariz a fazer uma limpeza de fim-de-semana... nasal! Ficou uns 10 ou 15 minutos naquilo, e eu a ver, e a filha, que deve ter 5 ou 6 anos, sossegada, a tomar o pequeno-almoço.

- falha de segurança.
Acho que isto aconteceu num Sábado. Sábado ou Domingo, foi num fim da semana. Não publiquei no próprio dia porque nunca sei quem lê o blog e a pessoa podia sentir-se ofendida. Assim, não é possível saber de quem se trata. Fim do dia, hora do fecho, começámos a despachar o que podíamos despachar. Eu fui buscar os produtos de limpeza e lavei a casa-de-banho, os patrões ficaram a atender os clientes que ainda estavam no estabelecimento e a organizar coisas na cozinha. Para utilizar as nossas casas-de-banho é necessário pedir a chave no balcão, mas depois da limpeza (por causa das lixívias e tal) as portas ficam abertas até ao dia seguinte de manhã para secar e arejar. Eu acabei de lavar a casa-de-banho de fui para a cozinha tratar de outras coisas. Ás tantas, um homem entra no café e entra na casa-de-banho. Como acontece muitas vezes as pessoas não verem o papel que diz que é preciso chave, eu fiquei à espera que ele voltasse atrás... até me lembrar de que as portas estavam abertas. Aí comecei a ver as horas... e passaram 10 minutos e ele continuava lá, e passaram 15 minutos e ele continuava lá... e eu cá fora com a certeza absoluta do que estava a acontecer lá dentro, cada vez mais triste com a minha casa-de-banho acabadinha de lavar. 20 e tal minutos depois de entrar, saiu. Eu entrei lá e como era de esperar (até pelo cheiro já abafado que me recebeu), a casa-de-banho estava insdiscritivelmente suja e eu tive que a lavar outra vez.

sábado, 18 de setembro de 2010

Dia 29

- coca-cola sem gás?
Dois jovens pediram alguma coisa a um dos patrões, e depois pediram uma coca-cola com gelo. O patrão encheu o copo de gelo, abriu a coca-cola (nós temos coca-cola só em garrafa) e pôs no copo, vendo-se obviamente que tinha gás. O cliente começou a beber e disse 'Não tem gás.' Os patrões, achando muito estranho, trataram de resolver a situação. Um recolheu a garrafa e o copo, e o outro entregou outra bebida (por acaso não reparei se foi outra coca-cola). Foi aqui que eu reparei que se passava alguma coisa, porque eu estava no lava loiça e um dos patrões chegou lá a agitar uma garrafa de coca-cola que sujou aquilo tudo... e perguntou: 'Não tem gás?!'

- café vs. barbeiro.
No 15º dia de trabalho falei-vos de uma senhora que esteve na esplanada, pensando que estava sozinha, a cortar franja, bigode, barba e pelos do nariz. Pois bem, essa mesma senhora esteve hoje dentro do café com o café cheio de gente (duvido, portanto, que ela pensasse estar sozinha) a cortar o bigode. Tive que partilhar.

Dia 28

17 de Setembro, ou seja, exactamente um mês depois de começar a trabalhar lá no café. Três situações para vós, meus caros.

- mais uma chave desaparecida.
No meu 20º dia de trabalho a chave da casa-de-banho das senhoras foi sequestrada pelo canalizador que lá foi arranjar o autocolismo. Acabei por não vos contar o desfecho dessa história, falha minha, conto agora. A chave chegou em segurança ao café no dia seguinte de manhã. Foi entregue pelo próprio canalizador, fui eu que a recebi. Estava a limpar o balcão, quando um senhor me entrega a chave de porta-chaves verde (das senhoras, portanto). Achei estranho, porque aquela chave costuma vir de mãos femininas, e depois lembrei-me que estava a ser devolvida depois umas horas fora de casa e agora está tudo bem com ela. Acontece que hoje desapareceu a chave da casa-de-banho... dos homens! Não sabemos quem foi, mas o canalizador não foi lá hoje. Ah, e seja quem for que levou a chave, teve a bondade de trancar a porta antes de ir embora, pelo que tivémos que a arrombar. Acontece de tudo naquele café...!

- parentesco com patrão.
É incrível como um mês depois de eu começar a trabalhar e depois de publicar no blog do café o desmentido, os clientes continuam a ver-me como filha de um dos patrões. Hoje estava só com o patrão que supostamente é meu pai lá no café e fui à esplanada recolher loiça e pôr cinzeiros. Ao voltar, o patrão não estava lá e estava uma senhora ao balcão. Dirigi-me para ela e perguntei se já estava atendida, e ela, de uma forma quase familiar, respondeu: 'Não se preocupe, menina, o pai já foi lá abaixo tratar do meu pedido.'

Afinal escrevi só duas situações, a outra não tinha assim tanta piada.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Dia 27

Duas situações interessantes.

- o [sujo] é o mais apetecido.
Manhã, cedo, todas as mesas livres. Pronto, quase todas. Alguém sai de uma mesa e entram senhoras idosas no café. Não sei se é para se certificarem de que mantemos tudo limpo, sentam-se na mesa repleta de migalhas, café e loiça suja. Depois, chamam-me: 'Menina, esta mesa está suja.' Eu ia limpar, a sério que ia. Não havia necessidade nenhuma de ter que quase passar por cima de umas velhotas para o fazer.

- pedidos previsíveis.
Há clientes, maioritariamente as senhoras mais idosas, que fazem sempre o mesmo pedido, pela mesma ordem, com a mesma entoação. É engraçado quando eu estou a receber o pedido e tenho ao meu lado o meu patrão a dizer baixinho, imitando o 'ritmo', entoação, até a voz de quem está a fazer o pedido, ao mesmo tempo, o que está a ser pedido. É difícil não rir. 'É um pão de lenha bem cozido com pouca manteiga e um galão quente, nem claro, nem escuro, com adoçante.' Tudo isto para pedir um galão e um pão com manteiga?

Dia 26

- galão vs. meia de leite.
Hoje assisti/participei no que creio ter sido uma situação grave de dupla personalidade. Uma senhora idosa, bem cedinho, chegou a pedir o pequeno almoço. Queria uma sandes de uma coisa qualquer e um galão. Eu perguntei se queria a sandes com ou sem manteiga, e a senhora disse que afinal preferia uma meia de leite. Eu disse que sim e fui fazer a sandes (faz-se sempre primeiro, para que a meia de leite neste caso não arrefeça). Quando lhe entreguei a sandes, disse que afinal queria um galão. Eu, para confirmar. 'Um galão?' E a senhora: 'Não, faça-me antes uma meia de leite.' Eu peguei no manípulo da máquina do café para começar a fazer, e a senhora ainda disse 'Olhe, desculpe, afinal é um galão.' Aí eu fiz o galão muito depressa, antes que ela mudasse de ideias. Por acaso não me informei sobre isto, mas que eu saiba, a grande diferença entre galão e meia de leite é o recipiente. Ambos têm um café (do tamanho de café normal) e depois o resto com leite, e acho que a quantidade de leite é mais ou menos a mesma para os dois, e para ambos entregamos dois pacotes de açúcar ou adoçante. Enfim, nunca pensei que a escolha entre galão e meia de leite pudesse ser tão difícil.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Dia 25

- vou repetir: o café custa 60 cêntimos.
Acontece várias vezes o cliente tentar inventar forma de não pagar. Alegando que não estava bom, ou que demorou muito, há os esquemas mais variados para não efectuar o pagamento. Eis aqui o que aconteceu hoje. Uma senhora entrou e pediu o café. Quando chegou a altura de pagar, começou a pôr lentamente moedas de 10 cêntimos no balcão, mas só até chegar aos 30 cêntimos. Aí parou, como se aquilo fosse o total, e perguntou 'Ah, pois é, quanto custa o café aqui?' Eu respondi '60 cêntimos, sff.' A senhora: 'Epa, aqui o café é mais caro... se calhar vou ter que levantar dinheiro...' Nisto foi remexendo as moedas até juntar os 60 cêntimos que eu recolhi. Se ela conhece um sítio que vende café a 30 cêntimos, acho que estamos todos interessados em saber onde é.

Dia 24

Último dia antes da folga, três situações.

- copo com vontade própria.
Estava um dos patrões com um copo com um refresco de groselha com uma palhinha. Todos provaram, e quando eu ia provar, antes de tocar no copo, a base do copo simplesmente caiu, deixando cair todo o líquido. O 'chão' do copo ficou inteiro, no chão da cozinha, e o copo sem 'chão' ficou também inteiro nas mãos do meu patrão. Era um copo com personalidade forte, portanto.

- não, não é uma praia, é a nossa esplanada.
Há um senhor idoso com uma barriga de cerveja colossal que se senta todos os dias num banco de jardim junto à nossa esplanada, virado para o sol, e levanta a camisola de forma a deixar toda aquela barriga à vista. E ali fica, a bronzear a barriga, tempos sem fim.

- falso espelho.
Há um multibanco na parede da entrada do nosso café. À volta do multibanco a parede é vidro espelhado por fora, mas nós dentro do café conseguimos ver a rua. Da rua é que não se vê para dentro por ser espelhado. Assim, é giríssimo ver as pessoas a arranjar cabelos, dentes, maquilhagem, tudo o que pode existir, pensando que estão sozinhas no mundo.

domingo, 12 de setembro de 2010

Dia 23

Sábado, dia cheio. Por incrível que pareça, hoje só aconteceu uma situação digna de entrar neste blog e nem sequer é nada de especial. Não tem, aliás, piada nenhuma. Vou publicar só porque foi a melhor cena do dia. A outra situação que vou publicar não se passou hoje, nem sei quando aconteceu, mas eu soube dela hoje e achei que valia a pena contar-vos. Aqui vai.

- o café só custa 60 cêntimos, não sei se sabem.
Hoje, durante a tarde, entrou um cliente que me pediu um café. Eu fiz o pedido, entreguei-lhe o café e voltei para a loiça. No fim de beber o café, o cliente chama-me: 'Olhe, desculpe, queria pagar.' E mostra-me uma nota de 200€! Eu fiquei uns segundos parada à frente dele com a certeza absoluta de que ele estava a gozar com a minha cara (até porque deve ter os seus 20 e poucos anos; era mais provável estar a gozar comigo do que estar a tentar pagar um café com uma nota amarela do tamanho da minha mão). Não estava, era a sério. Recebi os 200€ e lá andámos a contar notas para dar o troco ao rapaz.

- torrada incandescente.
Ainda não vos dei uma informação importantíssima para a compreensão de alguns episódios do blog, nomeadamente o episódio das tigelas, no Dia 14. Os meus dois patrões foram bombeiros durante muito tempo. Um 15 anos e o outro 20. Então, esta situação que me foi contada há bocado, passou-se quando um deles queimou uma torrada. Pelos vistos não foi uma torrada qualquer, ou pelo menos não foi convencionalmente queimada, porque ficou num estado tal que ficou em carvão quase incandescente e o autor da maravilhosa torrada decidiu passá-la por água antes de a colocar no lixo, por precaução. Esta situação foi contada por uma cliente que presenciou estupefacta o momento, vendo um patrão atrás do balcão a passar uma torrada preta por água. Curiosamente, hoje foi o dia em que queimei a primeira torrada, mas não tive que a passar por água.

sábado, 11 de setembro de 2010

Dia 22

A chegada do fim-de-semana altera mesmo o ambiente e proporciona mais e melhores situações para vocês. Hoje o diário é inédito, sendo que tenho quatro situações para partilhar e todas elas envolvem as nossas velhotas.

- o baton é para os lábios, só.
Entra uma senhora idosa no café, eu estava a lavar loiça, larguei a loiça e fui atendê-la com um sorriso. A senhora, simpática, ao sorrir para mim mostrou os dentes vermelhos, de baton. Eu não sei muito bem como é que ela fez aquilo, mas a verdade é que tinha os lábios pintados de vermelho... tal como os dentes do maxilar inferior.

- homicídio no café.
Estava eu a lavar a loiça (hoje estive muito tempo na loiça), e entre a loiça suja vinda da mesinha da terceira idade, ao separar o lixo para pôr a loiça a lavar, encontrei o que mais tarde percebi serem os restos mortais de um isqueiro. Estava desmembrado e distribuído entre pratos, copos e cinzeiros. Ainda estamos à procura de quem cometeu tal barbaridade, tendo o sangue frio de entregar o cadáver junto ao lava-loiça.

- já inventaram as tostas de fiambre.
Uma senhora idosa chegou ao pé do balcão ao fim do dia e pediu: 'Queria uma tosta mista por favor... mas daquelas sem queijo.'

- resposta inesperada.
Eu estava dentro do café sozinha, e como o café estava praticamente vazio os dois patrões foram fumar um cigarro para a esplanada. Às tantas entraram duas senhoras; uma para um café ou uma torrada, ou uma coisa qualquer que eu podia fazer e fiz, e a outra para totoloto ou euromilhões, ou uma coisa qualquer que tem que ser feita por um deles. Atendi a senhora que podia atender e fui lá fora para chamar um dos patrões. A senhora já atendida foi atrás de mim e falou primeiro, originando o seguinte diálogo:
Cliente - 'Então, está uma senhora lá à espera e vocês estão os dois cá fora...'
Patrão - 'Mas quem?
Cliente - 'Uma senhora, está lá dentro à espera para...'
Patrão (interrompendo) - 'Não não, quem é que a atura?'

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Dia 21

Decidi no início deste blog que o manteria isento de matérias de cariz sexual, porque comentários desagradáveis e piadas nojentas de damas e cavalheiros com mais de 50 anos chovem de tal maneira que se tornam vulgares. Assim sendo, não, não vos vou contar a cena com mais piada do dia. Vou antes falar-vos de outra coisa que acontece muitas e muitas vezes.

- novo jogo: 'não vais ouvir'.
Acontece quase todos os dias, várias vezes. Aqui ficam as regras do novo jogo inventado no Spazio, cujo campeonato já começou. O cliente chega, começa a dizer pausada e pensativamente o que vai querer, até que faz uma pausa mais longa com ar de quem ou não quer mais nada ou então ainda vai pensar um bocado no assunto, e nós viramos as costas para tratar do que já foi pedido. Assim que vamos embora, o cliente diz o resto do que quer, muito depressa, entredentes, e nós não percebemos nada. Por algum motivo isto acontece, muito. Eu quase aposto que se ficasse o dia inteiro à frente do cliente à espera que ele se lembrasse de mais alguma coisa, não ia surgir nada. Assim que fico ocupada, para além de se lembrar do que quer, trata de mo transmitir de forma a que eu não perceba. Porque é que os clientes esperam que vamos embora para completarem os pedidos? O ser humano é difícil de compreender.

Dia 20

O dia até foi calmo. Fiz o meu turno da manhã, saí e quando voltei para o turno da noite, contaram-me o que aconteceu.

- rapto da chave da casa-de-banho.
O autocolismo da casa-de-banho das senhoras estava estragado há algum tempo, e o canalizador foi lá durante a tarde para o arranjar. Fez o seu trabalho e foi embora. Mais tarde, já depois de eu entrar, percebemos que a chave da casa-de-banho não se encontrava no local indicado. Depois de procurarmos, alguém se lembrou de contactar o canalizador, que disse ter ficado com a chave. Assim, esperamos amanhã o seu regresso com a dita chave, até porque a casa-de-banho desgovernada tornou a limpeza ao fim do dia num desafio autêntico.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Dia 19

Três situações para vocês, caros leitores.

- gosto em gastar.
Como já mencionei neste blog, temos dois pontos de água gratuita lá no café. As pessoas podem querer água fresca ou natural, até nos podem pedir um copo com gelo. Eu pessoalmente, só por isso, nunca gastaria dinheiro numa garrafa, a menos que quisesse ir embora e levar a água. Acontece que há um número considerável de clientes a comprar garrafas de 50cl, bebem pouco ou nada e deixam lá a garrafa quase cheia, que pagaram. Há quem goste mesmo de gastar dinheiro.

- há quem prefira não dissolver o açúcar no café com o dedo.
Não sei se ainda se lembram do episódio de que vos falei no Dia 7, sobre eu esquecer-me de abrir as garrafas antes de as entregar aos clientes. Pronto, esta situação é parecida. Agora já abro as garrafas, é raro esquecer-me, então tenho um esquecimento novo: entrego os cafés sem colher. Tiro o café, preparo o prato, ponho lá o pacote de açúcar e a chávena e entrego aos clientes. Semelhantemente à situação das garrafas, viro as costas e vou fazer outra coisa qualquer ou atender outro cliente, até perceber que se calhar é mais fácil dissolver açúcar numa chávena de café quando se tem uma colher.

- 'querem mais papel?'
Estava um grupo de adolescentes daqueles que acham que têm piada na esplanada a comer bolos de outro café, e a fazer bolinhas de papel e sujar a mesa e o chão, e a gastar-nos os guardanapos todos. Um dos patrões pegou num guardanapeiro, foi lá fora e perguntou-lhes: 'Querem mais papel?' Eles não perceberam, e ele continuou. 'Vejam lá, esse já está no fim. Se quiserem fazer mais bolinhas, temos cá dentro mais papel.' E eles foram embora.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Dia 18

Domingo, último dia antes da folga, duas situações.

- mal entendido do descafeinado.
Esta foi com a minha colega. Um senhor pediu um descafeinado, e ela perguntou 'com açúcar ou adoçante?' O senhor respondeu 'Não, um descafeinado.' E ela continuou a perguntar e ele a responder, mais umas cinco ou seis vezes enquanto eu observava sem acreditar no que estava a ver e sem saber se havia de rir ou não, se ele estava a gozar com a nossa cara ou não estava mesmo a perceber. Era a sério. às tantas ele percebeu e disse 'Quero um descafeinado... com adoçante.'

- maxmen no balcão.
Já é automático. Tudo o que está no nosso balcão e não pertence ao balcão é para retirar. É loiça suja, guardanapos, maços de tabaco vazios, etc. Estava eu a tirar tudo do balcão e pego numa revista. Ao perceber que não era para recolher, voltei a colocá-la no balcão e continuei a tirar tudo o resto. Olhando para a revista, percebi que era uma Maxmen ou FHM ou algo do género. Resumindo, mulheres nuas. Olhei para o dono da revista e ele estava a olhar para mim com um ar admiradíssimo como se eu tivesse tentado roubar-lhe a revista. Sim, se há coisa que eu quero é uma maxmen... E já agora? Quem o mandou pôr aquilo no nosso balcão?

Dia 17

- à vontade com clientes.
As senhoras do nosso grupinho regular da terceira idade são, em geral, bastante vaidosas e preocupadas com o visual. No entanto, há uma senhora especialmente vaidosa, que costuma usar mais maquilhagem que as outras. Esta mesma senhora entrou no café, de manhãzinha, vestida de uma forma mesmo, mesmo, mesmo estravagante. Com aqueles fatos de casaco igual às calças, com um padrão todo manhoso e uma camisola por dentro que também deixava muito a desejar... Eu, ao vê-la entrar, dei um toque a um dos patrões, tipo 'Olha ali...' Ele, descontraidíssimo, dirige-se para a senhora e pergunta: 'Então, D. ... (obviamente não vou dizer o nome da senhora), veio do circo?'

domingo, 5 de setembro de 2010

Dia 16

- tê.
Temos uma senhora (do tradicional grupinho da 3ªidade) que tem um problema sério com o inglês, ou pelo menos essa é a única explicação lógica que consigo encontrar. Fui atendê-la, e a senhora pediu: 'Queria um tê de maçã.' Bem, ela estava a olhar para os B's, então eu perguntei se era a isso que se referia. Até tentei 'parecer-me' com ela para não a ridicularizar, e perguntei se queria um bê. A senhora disse que não, que queria um ice tê de maçã. Bem, nós ice tea não temos, só nestea, e tambem não era isso que a senhora queria. Acabei por perceber que a senhora queria um pleno de maçãs verdes. É preciso ter uma mente muito aberta para conseguir atender estes clientes.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Dia 15

Três histórias hoje para vocês, e todas elas com um potencial considerável para provocar o riso em quem as lê.

- tintureira do cacém.
O prato de peixe na hora do almoço era tintureira. Como quase ninguém sabe o que é tintureira, nós explicávamos sempre que é da família do cação. Às tantas entra uma senhora no café, pergunta o que é o almoço e uma das empregadas responde: 'frango com cerveja e tintureira do Cacém.'

- o ucraniano e a casa-de-banho.
Um senhor, provavelmente ucraniano, dirigiu-se à nova empregada e começou a pedir a chave da casa-de-banho. Como tem um português muito difícil de compreender, ela foi perguntando 'desculpe?', sem perceber, e ele foi repetindo o que queria, sem sucesso. Às tantas, num acto desesperado e imprevísivel (uma vez que estamos a falar de um homem feito, consciente do que faz), diz, de forma a que todas as pessoas no café possam ouvir: CHICHI!
E assim conseguiu a chave que tanto queria.

- salão de beleza vs. esplanada do Spazio.
Ainda não eram 09h da manhã, a esplanada ainda estava vazia à excepção de uma senhora e o café minimamente sossegado, eu estava a lavar a loiça e deparo-me com a senhora da esplanada a cortar a franja, ali, com uma tesoura pequena e um espelho. Tenho que dar uma informação crucial para tudo o que se passou a seguir: As nossas janelas tem umas cortinas que fazem com que se veja para o lado em que há mais luz, ou seja, de manhã vê-se de dentro para fora do café e quem está lá fora não vê para dentro; à noite, não se vê nada para fora do café, mas quem passa na rua vê tudo lá dentro. Pronto. Àquela hora e vendo as janelas fechadas, a senhora achava que ninguém a estava a ver (até porque de vez em quando olhava à volta para se certificar de que a esplanada continuava vazia). Eu, divertidíssima, fui chamando os meus colegas, um por um, e qual não é o meu espanto quando ela começa a cortar o bigode com a tesoura, ali, enquanto bebia o seu café. Um pouco depois começou a tirar pelos do queixo, tambem com a tesoura (pergunto-me qual seria o tamanho desses pelos para que pudessem ser cortados com tesoura). Mais tarde ainda, começou a cortar os pelos do nariz, continuando a beber o café. Isto durou cerca de uma hora, uma hora de diversão extrema dentro da cozinha. Acabou quando chegou um homem que se sentou ao lado dela.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Dia 14

- luto pelas 19 tigelas.
Caros leitores, venho por este meio notificá-los da tragédia que aconteceu no Spazio di Caffé na manhã do dia 1 de Setembro, meu 14º dia de trabalho. Na sequência da situação climatérica adversa anunciada previamente nos boletins meteorológicos, ouviu-se por volta das 11h da manhã, no meio da tempestade, um estrondo que por breves instantes silenciou o café. Acorrendo ao local, verificámos que uma pilha de tigelas estava despadaçada no chão da cozinha, perto da torradeira, num cenário de caos. Quando os bombeiros chegaram ao local já era demasiado tarde para as 19 tigelas que faleceram. Duas tigelas continuam desaparecidas e temos profissionais no local a liderar as buscas. As outras tigelas estão a ter acompanhamento psiquiátrico e pensa-se que possam brevemente voltar ao seu trabalho. Devido a este incidente, e em homenagem às amadas tigelas que faleceram, nos próximos dias não serviremos sopa. O dia 1 de Setembro de 2010 será lembrado para sempre com pesar por todos os clientes e empregados daquele estabelecimento. Atenciosamente, Spazio di Caffé.


Ok, não foi bem assim que aconteceu. A verdade é que um dos membros da nossa equipa de trabalho deixou cair as 19 tigelas que se partiram e realmente calaram o café com o estrondo. Ah, e obviamente não vamos deixar de servir sopa.

Dia 13

- baptismo da nova empregada.
Aniversário do meu irmão e primeiro dia de trabalho da minha nova colega, muito simpática e com quem tive empatia desde o início. Foi um dia relativamente calmo no meu turno, mas chegou-me aos ouvidos que a minha colega já foi baptizada enquanto empregada. Estava com um grande bule de chá para entregar e deixou-o cair sobre si mesma... Etapa do baptismo está tratada, o que virá a seguir?