segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Dia 12

- chichi por contágio.
Mudei novamente o meu horário, só trabalhei uma hora porque o estabelecimento fechou mais cedo, o mais engraçado mesmo foi um momento de chichi por contágio. Passo a explicar: uma criança chegou ao balcão aos saltinhos. Segundos depois, percebemos que a menina queria fazer chichi e estava a fazer uma encenação imensa para pedir a chave da casa-de-banho. Com tanta agitação, a irmã mais nova apercebeu-se do que se estava a passar e começou aos saltinhos também, como se também quisesse fazer chichi. Quando reparámos, tínhamos duas crianças a saltar e correr pelo café, de chave em punho, a gritar vitoriosas: 'Já temos a chave!'

domingo, 29 de agosto de 2010

Dia 11

- beber a tosta?
Já no fim do dia, um dos patrões preparou uma tosta para uma cliente. Ao dirigir-se à cliente para entregar o pedido, perguntou: 'vai beber isto com o quê?'

- o assobio misterioso.
O telemóvel de um dos patrões tem definido para as chamadas uma gravação do outro patrão a assobiar. Estava o dono do telemóvel a atender clientes no balcão, quando o telemóvel começa a tocar. Estando com clientes, optou por não atender e ignorar a chamada, não mostrando qualquer reacção e continuando a preparar bebidas e servir bolos. Os clientes, intrigadíssimos, olhavam em volta e tentavam descobrir quem estaria a assobiar. Ao mesmo tempo, nós, dentro do balcão, continuámos a fazer o que estávamos a fazer como se nada se passasse. Foi divertidíssimo quase conseguir ler na cara dos clientes 'Estará mais alguém a ouvir, ou estarei eu a enlouquecer?

sábado, 28 de agosto de 2010

Dia 10

Caros amigos, hoje tenho duas situações que nada têm de extraordinário, são obviamente ridículas e ainda assim acontecem constantemente (daí eu publicar).

- Nem sempre é bom as crianças perceberem que os crescidos lhes acham piada.
Há uma criança amorosíssima que deve ter uns dois anos e cujos pais são clientes regulares no café. É daquelas crianças espevitadas que tendem a interagir muito com as outras pessoas, conversando, entrando na cozinha, todo o tipo de atitudes a que achamos imensa graça quando vindas de um ser humano com menos de 80cm de altura. Acontece que hoje, perto da hora do fecho, a família da menina pediu algumas imperiais, que estavam sobre a mesa, na esplanada, enquanto os adultos conversavam. Sem que se apercebessem, a criancinha chegou perto da mesa, segurou-a pelos pés e começou a abaná-la e a rir, de forma a que tudo o que havia se entornou, sujando a mesa, o chão e a roupa de todos os que lá estavam.

- Pedir um alimento no balcão de um café não é errado e não deve ser encarado como tal.
Este é outro daqueles acontecimentos típicos que o meu cérebro não atinge. Está o café cheio de gente, montes de barulho, e o cliente sussurra entre dentes, como se fosse segredo ou fosse pedir algo de errado, 'era um pãozinho com manteiga'. Nós, sem perceber... 'desculpe?' O cliente faz um ar ainda mais sofrido e repete, de uma forma ainda menos perceptível. Se calhar as pessoas não sabem, mas se não abrirem a boca e/ou não fizerem uso de uns instrumentos maravilhosos que têm chamados cordas vocais, nós não vamos perceber o que querem. E o ar sofrido... não percebo se acham que é vergonhoso o pedido que vão fazer, mas é pouco provável porque nós só vendemos coisas decentes, ou se é pena de nos darem trabalho, e nesse caso sugiro que experimentem trabalhar a dicção e poupam-nos o tempo gasto a tentar descobrir o que desejam. Só sugestões.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Dia 9

- queria uma dieta coerente, por favor.
Sem nenhum acontecimento especialmente marcante, deixo aqui uma situação em que tenho vindo a reparar. Como não podia deixar de ser, sobre as nossas fiéis clientes idosas. Para além de passarem o tempo a salientar como cada uma das outras está gorda, pedem (sem excepçao) salgados, bolos com creme, scones, doces, tostas, torradas, uma vastidão sem fim de coisas que engordam. E para beber, sempre, um descafeinado com adoçante, 'por causa da dieta'. Alguém percebe isto?

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Dia 8

- bebidas orientas.
Dia semi-tranquilo, pelo menos o meu turno. A coisa mais invulgar foi uma senhora idosa que, depois de fazer um pedido de uma quantidade considerável de salgados, gelatinas e coisas do género, pediu:
- E são duas daquelas bebidas orientais...
Bem. Eu sou nova naquele café, ainda não conheço todos os produtos, e fui perguntar ao meu patrão o que era uma bebida oriental. A senhora, muito apressada, explicou:
- Aquelas bebidas orientais. Um néctar de pêssego e o outro de manga.
A senhora referia-se a compal.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Dia 7

Depois da primeira folga, a terça-feira trouxe mais três situações interessantes.

- as garrafas não se abrem sozinhas.
Tem vindo a acontecer desde que comecei a trabalhar, e já é motivo de riso por lá. Pedem-me uma bebida de garrafa com carica, eu preparo o copo todo mariquinhas com o gelo e o limão, entrego e esqueço-me de abrir a garrafa. O mais vulgar é o cliente ficar a olhar para mim, eu virar as costas para atender outro cliente e lembrar-me entretanto que a garrafa não se vai abrir sozinha. O que vale é que os clientes acabam por achar piada...

- as velhotas e os óculos esculos.
Não podia faltar aqui um episódio das nossas queridas representantes da 3ª idade. Hoje o café começou a fechar mais tarde, às 22h. Então não é que já de noite andavam as senhoras dentro do café de óculos escuros na cara a conversar pacatamente? Com esta situação com a camada do ozono, todo o cuidado é pouco... ou pelo menos deve ser essa a filosofia.

- 5€ para o lixo.
Estava um dos patrões a tirar papelinhos da caixa registadora e deitar fora, quando repara que está algo azul no caixote do lixo. Era uma nota de 5€, bem amarrotada, que tinha sido deitada fora com os outros papéis. Aqui se vê como a casa está a facturar. Estamos tão bem, que notinhas pequenas são para o lixo. (Obviamente, a nota foi reposta na caixa imediatamente.)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Dia 6

Confirma-se. O fim-de-semana é uma fonte de inspiração. Hoje tenho seis situações para desabafar convosco.

- falsa partida.
Um cliente, depois de beber o café, levanta-se da mesa e encaminha-se lentamente para o balcão. Numa cumplicidade automática, os funcionários atrás do balcão despedem-se e encorajam o senhor a saír com felizes 'até amanhã' e 'adeus, boa tarde', até que o senhor, num curto espaço de silêncio nesta despedida antecipada, diz: 'era só para pedir mais um café.'

- pedidos fantasma.
Não sei quem, como, nem porquê. A verdade é que de quando em quando alguém nos faz um pedido e desaparece. O pedido é feito, nós preparamos o que nos foi solicitado, e quando está pronto não há ninguém para o receber. Para confirmar, chegamos a verificar mesa a mesa para percebermos que quem fez o pedido já não se encontra no estabelecimento.

- senhora com baton vs. baton com senhora.
Bem, este é dos complicados. Uma coisa que eu nunca percebi é a necessidade de as senhoras mergulharem em baton vermelho antes de beberem café. Por algum motivo não faz sentido na minha cabeça. A verdade é que há tantas chávenas a chegar à cozinha com vermelho entranhado, que o estabelecimento adquiriu a Escova do Baton. É uma escova destinada a remover todos os pedaços e partículas da substância que ficam na chávena. Se calhar faz mais sentido beber o café primeiro e dar banho aos lábios depois. A cliente não perde metade do baton na chávena, e nós não precisamos de um esfregão de arame para lavar a loiça. Só vantagens.

- as velhotas e o futebol.
Estava eu a limpar mesas e trocar cinzeiros, quando começo a ouvir a conversa das senhoras da mesa do canto. Estavam a falar, obviamente informadas, da contratação do Roberto para o Benfica, de como o Quim era melhor, das substituições mal feitas, da derrota frente ao Nacional, etc. As velhotas já não são o que eram.

- meio café e meio pacote de açúcar.
Aqui está um pedido que não existe e devia existir. Por algum motivo, muitas pessoas utilizam apenas metade do pacote de açúcar no café. Sei que usam o que querem, mas torna-se desagradável e até irritante ao fim de algum tempo ter que limpar a cozinha porque ficou outra vez cheia de açúcar depois de pegarmos num pacote para pôr no lixo antes de lavarmos a chávena, chegando à conclusão de que o pacote afinal não estava vazio. Em relação ao meio café... brincadeiras à parte, já existe. E nós temos. Em vez de beberem apenas metade do café e depositarem meio mundo dentro do copo, podem pedir logo um café curto ou uma italiana, nós também servimos dessas coisas.

- novo jogo: 'olha quem paga'.
Aqui está uma modalidade nova jogada no Spazio di Caffé durante as tardes. As nossas clientes frequentes mais idosas costumam escolher uma mesa na esplanada e ficar por lá a tarde inteira entre galões, torradas, scones, imperiais, meias de leite, etc. De vez em quando, uma entra sorrateiramente no café e vem tentar pagar tudo das outras. Tentam até pagar o que ainda não foi pedido. Se alguma das outras se apercebe, entra a exigir que não aceitemos o dinheiro, pois ela própria pagará por todas.

domingo, 22 de agosto de 2010

Dia 5

O fim-de-semana inspirou os clientes, ou pelo menos assim parece. Hoje tenho quatro situações para partilhar.

- os clientes e o origami.
Eu não percebo qual é a necessidade que os clientes têm de enfiar o máximo de guardanapos que lhes for possível nos restos empapados do café e açúcar no fundo das chávenas. Se não sabiam, ficam a saber - a loiça não vai para a máquina como chega à cozinha. Tudo o que é depositado nas chávenas, é retirado com as nossas mãos antes de ir para a máquina. Enfim, acho que dá para perceber a ideia. Hoje, porém, houve duas mentes brilhantes que foram para além do papel empapado e fizeram verdadeiras obras de arte. Por uns breves segundos tive pena de as destruír.

- a senhora que gostou da casa-de-banho.
Uma senhora volta da casa-de-banho, entrega a chave a um dos patrões que lhe pergunta: 'Então, gostou da casa-de-banho?' Ao que a senhora respondeu: 'Gostei, sim.'

- a água de marca.
Temos no balcão duas zonas de água gratuita, os clientes podem e devem servir-se. Um jarro de água obviamente da torneira e uma engenhoca daquelas em que a água pode saír natural ou fresca, com um depósito azul, que é igualmente preenchido com água da torneira. Um senhor estava a decidir, escolheu a engenhoca e comentou como aquela água é boa. Um dos patrões disse 'Pois, essa é das que vêm engarrafadas...' Ao que o cliente respondeu: 'Dá para distinguir, esta é mesmo fresca. Muito boa esta água.'

- o senhor do whisky.
Há um senhor idoso muito simpático que todos os dias pede um whisky como quem está a tentar manter um segredo, hoje percebi porquê. O senhor toma comprimidos que supostamente o proíbem do consumo de bebidas alcoólicas. Ele vai com a mulher para o café, deixa-a na esplanada, diz que vai à casa-de-banho e vem pedir-nos whisky. Três a quatro vezes por dia. E nós damos.

Dia 4

- serviço de mesa.
Nada extraordinário. Houve um momento com alguma piada, quando entraram dois jovens em fim de adolescência a medir forças com as regras do estabelecimento. Não há serviço de mesas, e as duas crianças grandes com uma amostra de barba ficaram sentadas na esplanada durante cerca de meia hora até perceberem que não ia lá ninguém. Aí, um deles levantou-se e veio pedir duas coca-colas.

Spazio di Caffé - 1
Miúdos Parvos - 0

Dia 3

- ajudantes na hora do fecho.
Primeiro dia mais difícil. Muita agitação, duas loiras daquelas mesmo mesmo burras a implicar com tudo, um corte no dedo... a cena mais engraçada do dia foi mesmo ver as velhotas na hora do fecho a ajudar-nos a arrumar a esplanada. Estava eu a aspirar o chão quando olho lá para fora e vejo três velhotas a passear cadeiras de um lado para o outro.

Dia 2

(só para contextualizar, o café onde trabalho é daqueles em que é necessário pedir a chave da casa-de-banho para a utilizar.)
Entra uma senhora idosa no estabelecimento...
- Oh menina, empreste-me a chave...
Eu, para confirmar...
- Da casa-de-banho?
Ao que a senhora responde, sem hesitar, e com um grande sorriso:
- Está tudo bem, muito obrigada.

Dia 1

Mudei de horário, descobri o nome do estabelecimento - Spazio di Caffé - e vivi a primeira situação caricata: clientes perguntaram se sou filha de um dos patrões, ele respondeu que sim, e a brincadeira pegou.
Isto vai ter piada...

pequena introdução

Boa noite caros leitores. Este espaço consiste em relatos de situações verídicas vividas dia após dia por uma empregada do café que dá nome ao blog. Saliento que o café em questão é o espaço mais incrível e adorável que jamais poderão conhecer.

Atenciosamente,
jw.